quarta-feira, 20 de março de 2013

Fast and slow



Nem a minha típica postura de menina medrosa que acha que é mulher quando usa salto alto, conseguia disfarçar a tentativa de parecer menos estúpida enquanto você tocava violão na sacada, com uma despretensão desajustada, e eu te observava com admiração. Podia ser culpa da chuva, não sei. Não que a chuva me incomode normalmente, mas estranhei quando me peguei desejando em silêncio que ela jamais cessasse. Queria eternizar aquela noite fria já em brasas. Queria pra sempre aquela sensação de mundo paralelo que existia dentro do seu apartamento. Éramos tolos, apesar de tudo, naquele momento completos. Dois estranhos se encarando como antigos amantes, como duas almas outrora enamoradas. O tempo não parou para o relógio, mas dentro de mim alguma coisa que se arrastava a passos lentos estancou para outra, absolutamente diferente, iniciar numa velocidade avassaladora.

Era tudo muito maior do que meu embaraço tentando parecer cool ou seu nervosismo ao se esforçar nitidamente para ser atencioso. Reparei em cada minucia dos seus gestos e cada mistério triste do seu olhar. Homens como você são do tipo que eu desejo que chorem por mim, chorem por todas que já choraram por vocês, mas até do seu desapego eu tenho pena. Era poético. Você tinha todo direito de não se relacionar profundamente com ninguém, você já era profundo o suficiente. Eu só queria poder fazer com que você nunca, em toda sua vida, quisesse chorar novamente.

Não sei o que se esconde por detrás do seu cavalheirismo. Ogros são ogros porque não sabem enxergar o que a mulher tem de especial. Mas você é doce. Mas jamais doce que enjoa ou satisfaz, você é o doce que a tpm faz a mulher desejar incessantemente. Você tem uma inocente meiguice de menino que deseja conquistar o mundo, mas ao mesmo tempo, carrega nas costas, o peso de uma vida inteira que você nunca compreendeu. É contraditório, eu sei. Mas o que somos nós senão opostos? Eu razão e você emoção. Você derrubou minha barreira de inseguranças como se me pegasse no colo. Ou era eu quem te amparava? Você embelezou o drama e fez com que todo traço preciso formasse um abstrato indecifrável. Era arte. Música.

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