Passei uma noite na observação. Era eu quem estava sendo observada, por razões de saúde. Então passei a noite naquela maca, espetada por aquela agulha recebendo aquele soro com minha medicação. Sim os 40ºC de febre uma hora teriam que ceder.
Mas afinal, o que mais foi observado naquela madrugada? Observei todos que chegavam lá, cada qual com suas razões, alguns enfermos do físico, outros da alma.
Nessa mesma noite, descobri que desconhecidos que moram sozinhos podem levar uma pancada na cabeça na porta de casa e acordar apenas 40 minutos depois na casa do vizinho. E mais, ainda tontos e sozinhos se internam usando o crachá do trabalho no lugar da carteirinha e quando acordam e estão de alta, não querem ir embora.
Descobri que mães se aventuram a pé, no meio da noite, desacompanhadas pela rua, pra uma consulta quando se sentem mal. Tudo pra não precisar acordar os filhos.
Descobri que velhinhas de 90 anos, que chegam lá com uma simples diarréia, tem medo de dormir a noite, não fecham os olhos um segundo sequer, esperam o dia pra fazer isso. Teria ela medo de morrer?
Descobri também, que garotas de 21 anos se revoltam com ex-namorados e com o arroz com galinha que a mãe está cozinhando e tentam suicido tomando uma dúzia de remédios faixa preta.
O mundo está enfermo. O homem solitário prefere, mesmo tendo recebido alta, dormir numa maca. Por mais que em casa uma cama confortável o estivesse esperando, era apenas isso, um objeto inanimado, não teria ninguém ansioso a sua espera.
A mãe super-protegendo os filhos se arrisca pela noite, ignorando os perigos e se expondo aos piores riscos. Arriscando-se principalmente a nunca mais voltar a ver os filhos.
A senhora, inquieta, deveria ser ali a que menos temesse a morte, ora, ela já viveu toda sua vida, viveu tudo que podia viver. Mas a verdade é que todos querem uma oportunidade a mais, um dia que seja, de poder fazer aquilo que até agora se propôs a fazer e não fez. Ou talvez ela apenas enxergue a beleza dessa vida e o quão bom é viver.
Mas há também a jovem, que com toda vida pela frente, família, emprego e juventude, mesmo assim, se sinta incompleta, sozinha, e esteja precisando de atenção.
Definitivamente o mundo está enfermo, mas principalmente, enfermo da alma.
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